quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Em algum lugar do passado


Vou ao balcão. Peço uma cerveja em lata. O ano é início de 2005, eu acho. Ficou ali observando as pessoas como se eu fosse apenas um telespectador sem um controle remoto nas mãos, sem interação com o meio, e eu me odeio por isso. Ainda há pouco eu estava envolto a um tipo de euforia que a muito eu não sentia. Eu estava olhando o céu estrelado e achando o máximo, sentindo toda uma adrenalina invadindo meu corpo. Estava pronto para extravasar ao mundo. Minha cerveja está acabando, assim como a minha euforia de agora a pouco, penso nas mulheres, peço uma coca-cola, sei que se eu continuar bebendo farei uma das minhas inúmeras e pecaminosas situações de desdouro, e isso é quase certo, assim como é quase certo que o sol nascerá amanhã. Ela acabou de chegar junto aos seus. Alguém lhe diz que estou no balcão, ela não me procura com os olhos, dissimula uma indiferença e continua falando, puxa vida, como algumas mulheres falam!. Logo ela levanta e com a intenção de ir ao banheiro, passa pelo balcão onde estou. Disfarça e faz uma cara de supressa, vem ao meu encontro e me cumprimenta, ou não seria supressa? Trocamos alguns murmúrios, ainda vejo em sua face toda aquela coisa bonita que só encontramos nos jovens e que eu perdi a muito tempo. Ela entra no banheiro, me animo em tomar mais uma cerveja. Na sua volta ela me murmura mais alguma coisa, no entanto, toda a minha euforia agora já se dissipou por completo, perdeu-se tal qual o gosto da cerveja em minha boca. Há algo meio chato no ar, estou com sono, pensamento longe dali, perdido em algum lugar ilusório do futuro, já abro a boca em um bocejo de sono, procuro por uma coca-cola e peço minha conta. Ao sair, olho para ela cercada por vários caras, existem nos olhares sobrepostos nela um interesse sexual avultado, fantasiado por sentimentos de amizade. Por um momento ela me olha, eu lhe faço um gesto de adeus, ela por sua vez, balança a cabeça em uma negativa e seus lábios me pedem, em um gesto que mais parece uma suplica, para não ir. Eu balanço a cabeça negativamente, me viro e vou embora. Vou com a sensação de que algo me foi tirado sem permissão, como se eu me encontrasse no cinema e o filme tivesse sido interrompido. Por um momento penso nela beijando um daqueles caras no final da noite. Seria um deles, não eu. Penso na única coisa que me pertence, minha vontade, minhas crenças e meu desejo (ou não seria ao contrário?). Dirijo até em casa com certo ar de vitória. Não busquei mentir para mim mesmo. Só penso no amanhecer e quem sabe um outro dia eu não seja novamente visitado por esse estado de euforia momentâneo, do qual fui submetido ainda há pouco.
AUTOR: JB

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